Entendemos
a escola como espaço e tempo de relações – espaço, fazendo menção a um lugar
determinado, que é este e não outro; a escola específica, datada, murada,
visível; tempo porque é passado, presente e futuro, é instante e de relações
porque nela a vida que se vive junto acontece! Um espaço/tempo de relações,
onde a diferença (a multiplicidade) é uma realidade em meio à qual,
necessariamente, são constituídos os vínculos, para o bem ou para o mal, em que
se dão as experiências.
As relações se dão entre
os diferentes e na diferença! Quando dizemos o diferente e na diferença estamos
marcando duas situações, embora caminhem juntas. Ao dizermos o diferente referimo-nos ao outro, aquele que,
simplesmente por ser outro já é diferente de mim; quando dizemos na diferença, fazemos referência à contingência,
por exemplo, na escola os educandos estão imersos na diferença; especificamente
nesse espaço/tempo estão em relação um eu e os outros, os quais, por serem
outros e, portanto, diferentes, criam para esse eu um espaço/tempo na diferença.
Barbara
Smith, em seu livro Crença e
resistência: a dinâmica da controvérsia intelectual contemporânea alude a um problema ao qual teremos
que dar maior atenção, a saber, a natural dificuldade que temos para aceitar e,
mais ainda, conviver com o diferente, na diferença. Tal é a dificuldade,
apontada por Smith, de considerar, individualmente, ou constituir, do ponto de
vista teórico ou institucional, o que chamamos multiplicidade, em razão de
nossas resistências às diferenças, seja do ponto de vista do indivíduo, seja
numa perspectiva epistemológica:
Se aquilo em que acredito é
verdadeiro, como o ceticismo ou a crença diferente de uma outra pessoa é
possível? [...] uma tendência mais geral aqui, qual seja, “autoprivilégio
epistêmico” ou “assimetria epistêmica”, isto é, nossa inclinação a pensar que
acreditamos nas coisas verdadeiras e razoáveis em que acreditamos porque elas
são verdadeiras e razoáveis, ao passo que outras pessoas acreditam nas coisas
tolas e revoltantes em que acreditam porque há algo errado com elas. [...].
(SMITH, 2002, pp.17-18).
Note-se
que não estamos tratando aqui apenas da diferença religiosa, aliás, temos como
hipótese que, ao menos na escola, não é essa a diferença que mais importa para
a vida que se vive juntos ali, mas tratamos dos diferentes magrinho e gordinho,
dentes, sem dentes e dentes amarelados, com e sem óculos, cabelos lisos e
encaracolados, com e sem posses, que pensam assim e de outro jeito, que gostam desse autor e não de outro, que aprendem ouvindo o professor ou lendo, e mais e mais, uma lista infinita de motivos
para considerar o outro diferente e, portanto, passível de desconfiança nas
relações e no conhecimento.
Martin
Buber, em seu livro Sobre
comunidade, ao pensar numa
educação para a comunidade onde exista a “comunialidade”, ou seja, um estar
juntos dinâmico, considerou que esta precisaria acontecer não sobre homens
semelhantes e feitos, formados e ordenados de modo semelhante, mas sobre pessoas
formadas e ordenadas diferentemente e que mantém uma autêntica relação entre
si, considerando assim a diferença, a qual, como podemos constatar em nosso
cotidiano, é inevitável. Partindo dessa diferença e da consideração da situação
da humanidade contemporânea, Buber afirmou, como um dos sentidos da comunidade,
a própria multiplicidade de pessoas e sua relação e apontou que a estrutura
desta multiplicidade, por sua vez, não poderia reprimir ou impossibilitar a
relação autêntica. (Cf. BUBER, 1987, pp. 87-88).
Por
meio da realidade em que vivemos, cercados de exemplos cotidianos e diários de
dificuldades para convivermos uns com os outros, a temática da diferença toma
corpo e nos exige, de um lado, uma mudança de postura e, de outro, maior
conhecimento para nos convencermos, nós e os outros, de que é na diferença que
a vida acontece e pode, inclusive, ser mais rica! Barbara Smith e Martin Buber
são sugestões de leituras para esse fim...
Referências Bibliográficas:
BUBER, Martin. Sobre Comunidade. Trad. Newton
Aquiles Von Zuben. Seleção e introdução de
Marcelo Dascal e Oscar Zimmermann. São Paulo: Editora Perspectiva, 1987.
CÂNDIDO, Viviane C. Epistemologia da Controvérsia para
o Ensino Religioso: aprendendo
e ensinando na diferença, fundamentados no pensamento de Franz Rosenzweig.
2008. 412f. Tese (Doutorado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
SMITH, Barbara
Herrnstein. Crença e
Resistência: a dinâmica da controvérsia intelectual contemporânea. Trad.
Maria Elisa Marchini Sayeg. São Paulo: Editora UNESP, 2002.
Também acredito nesta educação, neste estar junto, compartilhando , trilhando e respeitando o diferente. Bjs
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