terça-feira, 12 de abril de 2011

A escola como lugar de conflitos... quais conflitos?


Recebo e leio todos os dias um clipping com as notícias de educação.  Hoje prestei atenção à chamada: MEC ANALISA PROGRAMA DE COMBATE À HOMOFOBIA e no texto “kit de combate ao preconceito contra homossexuais”... Concomitantemente, ainda estava pensando acerca do artigo do professor Dr. Luiz Felipe Pondé, publicado ontem, 11/04, na Folha, Nós, os pterodátilos. 
Sofro de um certo “problema” com políticas públicas de educação. Elas falam de coisas que, para mim, sempre foram e soam, no mínimo, estranhas, por exemplo, elas tratam da diversidade. Do ponto de vista epistemológico, penso que diversidade “sirva melhor” para questões de meio ambiente e não tem a ver com gente que vive e convive na escola. Espécie humana tem a ver com diferença na igualdade de sermos da mesma espécie. Explico.
Somos todos “humanos”, portanto, iguais, contudo, somos caracterizados pela diferença física, gordinhos, magrinhos, baixos, altos e assim vai; emocional, pacientes, nervosos, apáticos, hiperativos; intelectual, facilidade para aprender, dificuldade, tendências para a área de humanas, para a área de exatas, aprendemos ouvindo, aprendemos falando e, além destas, somos diferentes quanto ao sexo e à religião.
Podemos dizer então que a diferença é sempre um problema. O outro é sempre um problema que começa pelo simples fato de que ele é – o outro – e não sou eu. Na escola essa diferença e esse “problema” fica ainda mais caracterizado porque a escola é um espaço/tempo de relações. Nela e no tempo essas diferenças se vêem frente a frente e são desafiadas a conviverem. Temos então que, nas relações que acontecem na escola, o que permanece é a diferença e, em conseqüência, o conflito.
Depois da diversidade, as políticas públicas falam em “tipos” que merecem atenção: negros, índios, homossexuais e assim vai... Antes de tudo devo dizer que não acho que essas pessoas não mereçam atenção, merecem! Mas merecem como pessoas e não como estereótipos. Houve uma época em que, em comemoração ao Dia do Índio, costumava-se “caracterizar” as crianças pequenas de índios... não consigo pensar em coisa mais agressiva à diferença do que isso... Imagine se você é Maria ou José e hoje resolvemos “caracterizar” todas as crianças de Maria ou de José, em sua homenagem...
Outro exemplo da falência necessária desse tipo de política pública para a educação foi o assassinato do índio Galdino. Ao serem questionados sobre o fato de terem matado um índio, incendiando-o durante seu sono, no banco de uma praça, sabendo-se que o índio é “protegido” nesse país, responderam os jovens estudantes: “pensamos que fosse um mendigo”...
Se o MEC analisa um programa de COMBATE, seja lá ao que for, estamos diante do que nossa espécie mais gosta: uma boa briga com contornos de “politicamente correta”. E se precisamos de “kits” para nos defender de preconceitos, melhor prepararmos kits para os que são míopes, os estrábicos, os que são baixos, os gordos, os muito magros, os que têm os pés pequenos, os de pés grandes e tantos outros tipos que fazem com que sejamos o que afinal somos: predadores uns dos outros em nome de “padrões”, sempre inventados, de perfeição, sempre inatingível, física, emocional, intelectual, moral, religiosa...
Não seria o momento de aceitar que, provavelmente, a Religião tenha algo a dizer à Educação e que a Educação tem algo a dizer à Religião?


Viviane Cristina Cândido

LUIZ FELIPE PONDÉ: Nós, os pterodátilos


FOLHA DE SÃO PAULO - 11/04/11




Como deixar uma "prova fóssil" do fracasso afetivo de nossa espécie? Isso é completamente impossível 







UM DIA a espécie humana desaparecerá pelo menos tal como a conhecemos. Não, não me converti ao bloco dos maníacos de 2012 ou ao fanatismo verde.
Falo de "ciência". Falo da peça "Pterodátilos", em cartaz no Teatro Faap, com Marco Nanini e maravilhoso elenco. Trata-se de um texto que finca suas bases numa interpretação poética trágica da teoria evolucionista.
Você sabe, caro leitor, que o mundo está dividido entre aqueles ingênuos que acham que mãe é sinônimo de amor e aqueles realistas que sabem que existem mães que não deveriam ser mães. Sim, existem mães predadoras de filhos.
Não existe tal coisa como instinto amoroso materno universal. Algumas mães vivem a maternidade como destruição sistemática de seus filhos. E quase sempre essa anulação afetiva dos filhos vem travestida de "amor".
Mas qual seria a relação entre isso e o darwinismo? Calma, tome mais um gole de café. Coma um pãozinho quentinho. Mas não se esqueça da silhueta e que se você engordar uns quilinhos, você vai perder valor no mercado dos afetos...
O antropólogo americano Ernest Becker, escrevendo uma obra na fronteira entre darwinismo e psicanálise nos anos 60 e 70, já havia apontado para um fato importante com relação à espécie humana: somos a única espécie que além de enfrentar um meio ambiente externo, tem que enfrentar um meio ambiente interno.
Mente, psiquismo, cérebro, alma, tanto faz como você chame, vivemos em dois mundos, um material, físico, externo, e um outro, composto de experiências internas tais como afeto, ideias, reflexões, medos, esperanças. Este é o meio ambiente interno.
Ao longo de nossa trajetória evolucionária de milhares e milhares de anos (é sempre bom lembrar esse pequeno detalhe para essa moçada que acha que a vida começou com a Revolução Francesa ou com Marx e Foucault ou com o "Capital"), nós nos adaptamos a um equilibro sofisticado de pesos e contrapesos afetivos, dependentes de como somos tratados e de como tratamos os outros além, claro, da constante agressão do meio ambiente, este mesmo que os fanáticos verdes acham que é feito de substância angelical.
Um modo comum de se referir a este mundo interno é "emotional bonds" (laços emocionais ou afetivos). Claro que uma relação sofisticada e sutil entre pensamentos e afetos também faz parte deste "mundo". Daí decorre o modo de como reagimos ao meio ambiente social e psicológico.
Dizem os darwinistas, mesmo a vida moral (isso que hoje está na moda chamar de "valores", apesar de que todo mundo mente sobre esses tais "valores") é fruto desses "emotional bonds".
Penso como o dramaturgo romeno Ionesco: é a condição humana que determina a condição social e não o contrário. Acho que a teoria evolucionista captura melhor essa condição humana do que o blábláblá das ciências sociais.
Voltemos à peça. Pterodátilo era um tipo de pássaro pré-histórico. Um tipo de dinossauro com asas. Durou muito tempo. De repente sumiu. Por quê? Ninguém sabe.
Na peça a analogia entre a família protagonista e essas aves extintas é a chave da interpretação poética trágica da evolução humana. Um dia também podemos sumir sem "causas aparentes". Como deixar uma "prova fóssil" do fracasso afetivo da espécie? O fracasso afetivo é invisível, mas palpável como a dor.
A mãe da família (interpretada maravilhosamente por Mariana Lima) é a chave do processo de "extinção" da família-humanidade. Uma mãe predadora dos filhos. Tema datado? Nem tanto. O horror é sempre um clássico, mesmo para os cínicos.
Egoísta, desequilibrada, fútil (esquece o nome da filha o tempo todo), pedófila, infiel, incestuosa com o filho gay (aliás, a temática homossexual surge no enredo de modo dramático, estranho para uma época como a nossa na qual está "proibido pensar" no homossexualismo para além de "é lindo"), promíscua, enfim, um fracasso afetivo que reproduz seu fracasso em "escala evolucionária".
O destino de nossa espécie pode não ser apenas função da devastação de florestas, mas também da devastação do afeto que fica invisível no cotidiano.

ponde.folha@uol.com.br

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobre Educação e Religião

Educação e Religião são definidas por experiências de significado, integrando a experiência individual e coletiva de ser no mundo em múltiplos entrelaçamentos, para os quais faltam, no entanto, fundamentos. Diante disso, queremos propor a Filosofia da Religião como norteadora para as reflexões acerca dessas áreas e o pragmatismo, presente no pensamento de Franz Rosenzweig (1886-1929), como um referencial epistemológico para esta proposição. As experiências dos indivíduos, e destes nas instituições, é que se constituem no que podemos chamar das respostas do Homem – na relação com o Mundo - de sua relação com Deus. Estas se dão na vida e podem ser analisadas em sua concretude, empiricamente. Esperamos superar a perspectiva fragmentada dessas áreas e qualificar a experiência, fundamentando uma educação formal que considere a realidade, torne seus professores pesquisadores, ao invés de meros executores, e seja capaz de abordagens múltiplas que contemplem as diferenças.
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Viviane Cristina Cândido